Formação com indígena Puri marca ação da rede municipal para valorização da cultura originária em Mairiporã

Formação com indígena Puri marca ação da rede municipal para valorização da cultura originária em Mairiporã

Coordenadores pedagógicos da rede municipal de ensino participaram, nesta semana, de uma formação sobre história e cultura indígena ministrada por Txama Puri, liderança do povo Puri e autora do livro “Uxo Mairiporã”, realizado com apoio da Lei Paulo Gustavo. A ação representa um passo importante no cumprimento da Lei 11.645/2008, que torna obrigatória a inclusão da história e cultura afro-brasileira e indígena no currículo escolar

A atividade foi promovida pela equipe de assistência pedagógica da Secretaria Municipal de Educação e teve como foco ampliar o repertório dos educadores para que possam levar às salas de aula conteúdos mais justos e representativos da diversidade cultural brasileira. Além da formação com Txama Puri, os coordenadores também visitaram o Memorial Indígena Puri, localizado em Mairiporã, e receberam exemplares do livro “Uxo Mairiporã”, produzido com recursos do edital municipal da Lei Paulo Gustavo.

A cultura viva do povo Puri

O livro e o memorial são frutos do projeto Txemim Puri, que desde 2018 reúne famílias e organizações Puri em ações de fortalecimento da memória e identidade dessa etnia originária do Sudeste brasileiro. Mairiporã, como destaca Txama, está situada em território ancestral Puri. Na região, a família Teyxokawa mantém uma reserva biocultural onde são realizadas vivências, práticas agrícolas tradicionais e ações de revitalização cultural.

A produção do livro foi viabilizada pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura, com recursos da Lei Paulo Gustavo, e contou com o apoio direto da Secretaria Municipal de Cultura, que ofereceu mentoria técnica e acompanhamento ao projeto, fundamentais durante o processo de inscrição no edital, conforme apontou Txama. “Foi um diferencial para possibilitar melhor acesso ao edital. Considero que são aspectos basilares para ampliar o alcance da política pública e propiciar a inclusão comunitária e cultural.”.

“A criação do livro ‘Uxo Mairiporã’ e do Memorial Indígena Puri nascem da necessidade de dar visibilidade à memória histórica do povo Puri em nosso território ancestral […] e de reafirmar que ainda estamos aqui, com nossa voz, território e ancestralidade vivos”, afirmou Txama.

O projeto também foi reconhecido nacionalmente em 2022 ao ser selecionado para o Prêmio Rodrigo 2022 IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – por sua contribuição à preservação do patrimônio cultural brasileiro.

Educação e reparação histórica

Segundo Txama, a presença indígena nas escolas vai além do combate a estereótipos, trata-se de corrigir uma ausência histórica na formação da população brasileira.

“A Lei 11.645/2008 é um marco essencial para a educação no Brasil porque representa um esforço de reparação histórica e redirecionamento do currículo escolar para uma narrativa mais justa e verdadeira”, explicou.

“Essa lei fomenta uma reparação histórica bidirecional: em direção aos povos indígenas, afirmando sua História e existência contemporânea; e em direção à população brasileira, que, devido à invisibilização historicamente produzida sobre os povos indígenas, é privada do conhecimento sobre sua real composição, pluralidade, patrimônio cultural e História de formação.”

A trajetória da própria Txama como educadora e escritora reflete esse compromisso. Sua atuação está ligada à reconstrução dos saberes, da língua e da identidade do povo Puri — protagonista de ações de resistência cultural, recuperação da sua língua e reconstrução da sua história.

Formação continuada e compromisso pedagógico

A equipe de assistência pedagógica da rede municipal explicou, durante reunião com a comunicação da Prefeitura, que uma das principais metas das formações com coordenadores é levar às escolas subsídios pedagógicos consistentes para que o conteúdo previsto em lei seja trabalhado com segurança, sensibilidade e profundidade. Os técnicos destacaram que muitos professores ainda demonstram insegurança ao abordar o tema, especialmente por não terem tido, em sua formação inicial, uma base sólida sobre história e cultura indígena.

Essa lacuna, segundo Txama, reforça o papel estratégico da formação continuada:

“Ela permite que professores e coordenadores reflitam sobre o papel que historicamente a escola teve na consolidação de uma narrativa única e eurocentrada que invisibilizou os povos indígenas e propagou imagens depreciativas como estratégia de dominação e negação de direitos. A escola precisa ser percebida como ambiente de construção de relações étnico-raciais baseadas no respeito mútuo.”

Caminhos para uma escola mais justa

A experiência com a formação foi descrita pelos educadores como intensa, transformadora e necessária. A equipe da assistência pedagógica também relatou que a atividade será desdobrada ao longo do ano, com a inclusão do Memorial Puri na rota educativa do projeto “Descobrindo Mairiporã”, fortalecendo a integração entre currículo, território e identidade.

A formação com Txama Puri mostra que é possível fazer da escola um espaço de reconhecimento, valorização e diálogo com os saberes originários — construindo uma educação que respeita a diversidade e forma cidadãos mais conscientes de sua história e identidade coletiva.

Para conhecer mais sobre as ações do povo Puri e acompanhar os projetos culturais, visite o perfil @resistenciaindigenapuri no Instagram.

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